segunda-feira, 11 de abril de 2011

Angela Felipe segundo DARLAN CUNHA


A PLANTA DO MUNDO NA ARTE DE ÂNGELA FELIPE

"Na raiz da fala e do silêncio está o Inconsciente, com mais ou menos presença, lá está ele. Exalando classe, apareceu-me a pintura de Ângela Felipe, uma arte fortemente ensolarada como a terra em que ela nasceu e vive, arte na qual se observa em boa parte o motor recorrente, ou seja, o Inconsciente como instância primeira, mas não deixado-o de todo à sua própria vontade, nada disso, pois nota-se que a força da técnica desta artista (consciente) não dá de jeito algum ao Inconsciente margem total de manobra. Uma arte que me lembra antiquérrimos ritos de fertilidade celebrados por práticamente todas as culturas, todos os povos, através dos tempos, com alusões sutis ou claras à vagina, ao falo, ao útero, a espigas, sementes, ao sol, ou seja, alusões a sinônimos inequívocos de fertilidade, renovação, ao que é sadio.

Exemplo de sua visão do mundo através da sua arte está na tela Três Marias, na grande leveza que sai das cordas de uma viola que perpassa de modo transversal as três criaturas pintadas com harmonia (já que se fala aqui de música). Muitas telas configuram tão bem o imaginário tropical, que podem ilustrar livros, por exemplo, de antropologia e etnologia, sobre fauna e flora, sobre mitos e contos infantis (lembrei-me do livro Cobra Norato, do Raul Bopp), psicologia e psicanálise, pois levam de imediato o pensamento de quem as observe com certo cuidado à infinidade de formas, principalmente aves e árvores, do país tropical no qual ela se cumpre como pintora. Mas há outra particularidade, penso eu, nas telas dela: o visco infantil, caminho certo, embora não intencional primordialmente, penso eu, para atrair e manter firme o olhar das crianças, lembrando que o adulto pode voltar a sê-lo, puede volver a los dezesiete, volver a los siete.

Eu não a conheço pessoalmente, mas bastou-me considerar de leve alguns dos seus trabalhos publicados na Internet, para que eu sentisse uma excelente sensação, algo não tão comum nestes dias de pressa, ira, insônia, hipertensão, desleixo, arquitontura, tempo de vias de uma só mão, enfim, uma Era que engrossa a psicopatologia dos fatos cotidianos, da qual Freud falou. Novamente, outro livro exuberante veio-me do fundo da memória: História Universal da Infâmia, do J. L. Borges. Mas voltemos ao arrazoado de cores e formas, luzes e sombras.

As telas luminosas da Ângela Felipe – essa potiguar da capital - fazem a sua travessia pelo mundo, dando-nos a entender, inequívocamente, que ela sabe que "de tudo se faz canção", e telas a óleo."

DARLAN M. CUNHA
Escritor e editor do blog PALIAVANA4

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