sexta-feira, 8 de maio de 2009

Uma arte para sentir o imaginário

Ao mesmo tempo que deslumbra, assusta e desafia quem se propôe a decifrá-la, a pintura de Ângela Felipe exprime ao infinito, como um caleidoscópio, impulsos da mais livre fantasia dos espaços irracionais da mente artística. Não há explicações pré-elaboradas sobre o que está impresso no objeto pintado, mas sim um sentir de impressões , na maior parte inconscientes.
O mistério da obra é, em primeiro lugar, o próprio mistério da mente humana. Suas pinceladas mergulham em busca da realidade interior e abissal do homem. Suas tintas denotam na tela as camadas mais fundas da condição imaginária do elemento humano.
A condição humana em seus trabalhos constitui um enigma a mais, uma inquietante expressão da arte imaginária. Não há separação entre o homem e a natureza, ou seja, uma é parte complementar e formadora da outra. Essas figuras, quase mitológicas, nasceram apenas por uma invocada liberdade criadora. Exprimir-se por meio do avesso de imagens do cotidiano, alcançar a essência profunda e invisível das coisas e pessoas , transcendendo o plano das aparências do mundo sensível e imediato da leitura óbvia é a meta desta pintora, se considerarmos que exista, oficialmente, um ponto pré-estabelecido a se atingir.
Uma leitura adequada de seus quadros - já que se diz que eles não devem ser só vistos, mas também lidos - as raízes fundas e definidas em sua obra localizam-se no ambiente imaginário, onde as figuras exóticas por ela pintadas não assumem compromissos com o ontem, com o hoje e muito menos com o futuro. Seu tempo é atemporal, sendo um tempo do apenas sentir.

GERALDO MAIA
Ator/Jornalista